quarta-feira, 18 de junho de 2008

Entrevista

Sábado à tarde, antes do show, Mercedes Sosa concedeu uma entrevista coletiva. Numa das salas do segundo andar do Hamburgo Hotel, amparada por seu filho e protegida do frio por um aquecedor, La Negra falou, durante cerca de 40 minutos, de música e política. Lembrou com carinho as parcerias que fez com Kleiton e Kledir, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Beth Carvalho, Chico Buarque, Raimundo Fagner e, mais recentemente, com Maria Rita. “Eu adoro Chico Buarque. Ele é um homem muito culto e tem canções belíssimas. Fagner eu o considero como um irmão”, revela. Apesar de ter dedicado parte de sua vida a cantar canções engajadas, ela acredita que a música é só um acompanhamento na luta política. “Não devemos exigir que todos cantem melodias de protesto. Eu mesma já cantei ao lado de Shakira e Alejandro Sanz, que não têm nenhum comprometimento político”.
Da política, Mercedes se mostrou preocupada com o conflito que envolveu a Colômbia, Venezuela e Equador. Ela defende uma América Latina forte e unida. “Mas nossa democracia ainda é muito frágil”, alerta. Ela considera o continente americano muito machista. Apoiadora do governo de Cristina Kirchner, na Argentina, Mercedes disse que ser mulher e presidente é muito perigoso. Lamentou que Hillary Clinton não tenha vencido as prévias do Partido Democrata, nos Estados Unidos, e acha improvável que Barack Obama consiga governar “num país tão racista”, segundo ela.
Sobre a Argentina, a cantora se disse entristecida com a crise de desabastecimento envolvendo os agricultores e o governo. “Estamos passando por um momento muito triste. Não querem compreender que o fruto da terra deve ser dividido. Por isso existe tanta miséria. A pobreza existe porque tem gente que tem muito dinheiro e terra. Ninguém dá um passo atrás. Parece uma conversa de surdos. Porque uns são donos da terra há séculos”, relata. Ela acredita na democracia e espera uma saída pacífica para a crise. Sobre o presidente Lula e o Brasil, ela disse que há uma melhor integração com os presidentes latino-americanos. “Lula tem muita integração com a Argentina e com o Chile. Ele é amigo de (Hugo) Chávez, (Rafael) Correa, (Tabaré) Vázquez”.
Mercedes acredita que, quando os países se derem conta de que uns necessitam dos outros, não haverá mais conflitos. “Todos nos necessitamos. Uns têm água, outros soja, outros petróleo. Quando nos dermos conta disso, não haverá mais problemas”, acredita. Ela concluiu falando da sua alma pacificadora. “Não gosto de armas, canto pela paz”.

2 comentários:

Unknown disse...

HEI MUITO LEGAL...ADOREI,,,

Unknown disse...

Sobre a alusão a Obama, ao contrário de Merceds, um dos "pais do rock", o afro-americano Chuck Berry, que estará se apresentando em PoA neste final de semana, disse numa entrevista publicada em ZH: "Nos anos de 1950, havia lugares nos quais não podíamos pegar um ônibus, ou entrar nas casas pela porta da frente. E agora temos a possibilidade de um homem negro na Casa Branca. Graças a Deus, finalmente livres." Não sei se concordo com esse "finalmente livres", mas que é um grande passo, isso eu acho que é. O avanço de fato dependerá de muitos outros fatores.