quarta-feira, 18 de junho de 2008

La Negra ainda canta como uma cigarra

Mercedes Sosa: “Não gosto de armas, canto pela paz”

Alex Corrêa

Entoar canções que lembram a história e a resistência de um povo. Esse sempre foi o legado da cantora argentina Mercedes Sosa. Nascida em San Miguel de Tucumán, La Negra esteve em Cachoeira do Sul no último sábado, 14 de junho, no encerramento da Vigília do Canto Gaúcho. Apesar do frio, mais de seis mil pessoas assistiram o que, provavelmente, será um dos últimos shows desta índia tucumana nestes pagos. Com 72 anos e a saúde frágil, Mercedes Sosa cantou sentada durante uma hora e meia até o final emocionante, quando ela interpretou Maria, Maria, de Milton Nascimento, e Dale alegría a mi corazón, de Fito Paez.

A debilidade física desta septuagenária não prejudicou a imponência da sua voz. Durante sua apresentação, ela interpretou diversos compositores latino-americanos. Desde a chilena Violeta Parra, com Volver a los 17 e Gracias a la vida, até Vinícius de Moraes e Tom Jobim, com Insensatez; Gente humilde, de Chico Buarque, Vinícius e Garoto. Generosa, compartilhou o palco com o gaúcho Luiz Carlos Borges, acompanhado de Daniel Torres, na interpretação de Solo le pido a Diós. A cantora nativista Shanna Muller também dividiu o palco com Mercedes Sosa na música Ñangapiri, uma composição de Antonio Tarragó Ros. Ainda com Borges, interpretou El Cosechero, de Ramon Ayala, de seu CD acústico, com o qual ganhou o Grammy Latino.

Sempre comprometida com canções populares desde seu primeiro disco “Canciones con fundamento”, Mercedes virou ícone da esquerda mundial. Militante ativa contra a ditadura militar argentina nos anos 70 e 80 - quando se celebrizou como "a voz" da canção de protesto latino-americana - e peronista nos últimos tempos, Mercedes apoiou o presidente argentino Néstor Kirchner em seu primeiro mandato e agora apóia sua esposa, Cristina Kirchner. Entre 1979 e 1982 ficou exilada na Europa. Durante o período de exílio, La Negra podia entrar e sair da Argentina, no entanto, foi impedida de usar sua arma mais poderosa: a voz.


Matéria publicada no Riovale Jornal, de Santa Cruz do Sul, em 17 de junho de 2008.

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